Segunda-feira, 11 de Abril de 2005
Edição Papel
Director: Miguel Coutinho
Director Adjunto: Raul Vaz
Subdirectores: António Perez Metelo, João Morgado Fernandes e Pedro Rolo Duarte





entrevista
Francisco Penim Director DOS canais temáticos da SIC

"Os canais canibalizam-se todos uns aos outros"

Vê televisão compulsivamente e 'inventa' todos os dias a fórmula para fidelizar os espectadores de manhã à noite. Como na SIC Radical, que hoje faz quatro anos...

marina almeida
sónia correia dos santos
DN-Pedro Saraiva

O revivalismo presente nos canais temáticos da SIC é uma tendência ou uma opção de mercado?

As duas coisas. Sinto que muitas pessoas poderão gostar de ver ou de rever determinadas séries. Por outro lado, uma série de há 20 anos não custa a mesma coisa que uma deste ano. Mas há clássicos que custam a mesma coisa do que uma série nova. Seguramente, uma grelha com coisas em estreia, mais novas, é uma grelha muito mais cara. Se eu pudesse fazer uma grelha só com coisas novas, faria. Mas nunca deixaria de incluir um momento de nostalgia ou de algo já passado.

Lemos que há uns anos escreveu cinco cartas à RTP para esta repor o Espaço 1999. Já o tem para os seus canais?

Ainda não tenho o Espaço 1999, mas já estou a tentar há bastante tempo. O que eu quis demonstrar foi que se alguém manda um e-mail nós respondemos logo. Em 48 horas há uma resposta. Acreditamos que diferenciação de tratamento traz outros ingredientes para a estação.

Acha que os canais temáticos procuram uma definição de públicos?

O propósito dos canais temáticos é fazer televisão para comunidades, para grupos de pessoas. A tentativa é que o público dos três canais [SIC Radical, SIC Mulher e SIC Comédia] consiga ver nas suas televisões cada vez mais conteúdos que lhe agrade. Não é para cada um dos canais temáticos ter muito mais gente a ver, mas sim para ter a mesma gente a ver muito mais tempo. O objectivo último é ter uma panóplia de canais (que é o que já conseguimos ter hoje) que agradem a vários tipos de público. Ainda que estes se cruzem entre si.

Mas não são canais para ver em família? São canais que apelam à existência de um televisor em cada divisão?

Isso é o sinal dos tempos. Eu lembro-me de ver televisão com a família, hoje ainda faço isso, mas em minha casa há três ou quatro televisões e quando eu era miúdo ha-via uma. Mais tarde, lembro-me de haver uma segunda e de falarmos todos sobre isso. Hoje, qual é a família que dá uma grande impor-tância a "comprámos mais uma?"

Como explica que um programa tenha uma audiência forte e no programa seguinte a audiência desapareça?

Sendo pragmático, se eu soubesse essa resposta era o maior programador de todos. Posso inventar, que é o que faço todos os dias. Tento perceber por que razão as pessoas que eu já tinha conquistado neste programa foram para o outro. As razões são inúmeras... Num canal temático, porque temos a pretensão de perceber qual é o padrão de gosto, tentamos encadear as coisas com algum know-how, para tentar fazer com que menos pessoas fujam e mais pessoas venham, ou mais pessoas fiquem.

A busca é tentar encontrar o canal que retenha a pessoa fixamente?

É. Temos de fazer canais que sejam o mais fiéis possível aos seus princípios. Isso é um sinal de ousadia e de coragem. Estamos a dizer explicitamente que fazemos um canal para essas pessoas. Criar televisão para públicos penso que pode ser um caminho. Quero estar a pensar bem nos grupos para que os canais são definidos. Os canais da SIC tentam ser para todos, tentam ser para padrões de gosto.

Mas com isso não corre o risco de roubar espaço à SIC generalista?

Acho que é inevitável que o cabo cresça ainda mais. Hoje o cabo já representa bastante, tem crescido ao longo destes anos e seguramente que os canais da SIC, quero eu acreditar, contribuiram para isso acontecer. O parceiro TV Cabo estará contente nesse sentido. Inevitavelmente, o bolo dos canais temáticos ainda vai aumentar e o bolo dos canais generalistas vai diminuir. Os canais canibalizam-se todos uns aos outros. Até os canais pequeninos, como a Radical, canibalizam um pouco a SIC generalista. Defendo que todos os canais temáticos da SIC canibalizam mais os outros canais generalistas do que o canal generalista da SIC.

E que outros canais temáticos é que tem na manga?

Temos outros, não queremos parar. Temos um acordo com a TV Cabo para lançar mais um canal. Estamos à espera há, pelo menos, dois anos que haja acordo para o lançar. Se fosse possível este ano, era extraordinário.

Para que público?

Digamos para um público que ainda não está contemplado a cem por cento. Fazer um canal para um nicho novo. Já o temos programado, podia arrancar em dois meses.

O público infantil é apetecível?

Muito apetecível.

Mas é caro?

Não. Há uns tempos atrás, achava que o Panda era mal programado. Hoje já não tenho tanto essa opinião até porque sinto que eles melhoraram a programação. Começaram a subir nas audiências. Ainda assim, estou confiante que se a SIC tivesse um canal no cabo só para crianças era um canal vencedor. Se a TV Cabo quiser que nós façamos um canal para miúdos, fazêmo-lo muito rapidamente... Em dois meses.

Não estamos a falar do mesmo canal?

Não sei se estamos.

E o público sénior também acha que pode ser um alvo? Já teve a SIC Gold, que não correu muito bem...

A SIC Gold era um canal mais generalista. No primeiro ano acabou em terceiro lugar, no segundo ano acabou em sexto e no terceiro ano acabou em nono. Não correu muito bem? Acho que correu extraordinariamente. Agora, em três anos o cabo evoluiu imenso. Apareceram a SIC Notícias, a SIC Mulher e a Radical e outros canais com muito mais ambição do que um canal de recordações. Por isso é que achámos que estava na altura de fazer um canal melhor. A SIC não está no mercado para fazer canais que não sejam vencedores. Em relação ao público sénior, acho que é uma proposta interessante, não é a primeira vez que pensamos nela, mas não é uma prioridade. O público mais velho está na RTP. É um público mais conservador. Sempre que liga a televisão (ainda tem aquelas televisões antigas) está no número um. É normal que isso aconteça, não é desrespeito para a RTP. É apenas natural que o público mais velho já esteja na RTP1. Um canal próprio para o público sénior acho que faz sentido, mas não é a altura. Precisamos de esperar mais anos, até porque o perfil do assinante cabo não é um perfil velho, mas um perfil novo.

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